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Novas Tecnologias, Velhos Hábitos

Por Sergio Mirisola Soda

O mercado jurídico vive momento de grande movimentação tecnológica. As lawtechs (ou legaltechs) de repente se tornaram a bola da vez. Tudo, segundo a onda de inovação, para trazer mais previsibilidade, qualidade e eficiência para empresas e escritórios de advocacia.

As plataformas são diversas, as ideais as mais variadas. Não faltam eventos para tratar do tema. Inúmeras startups se dedicam a apresentar suas revolucionárias soluções para o Direito. Entre no ciclo da inovação ou fique para trás, diriam alguns.

Passamos a rumar animados em direção ao chamado “futuro do direito”, com medo de ficarmos de fora e, assim, nos tornarmos obsoletos. De uma hora para outra a tecnologia tornou-se a chave para a advocacia moderna. Centenas estão ansiosos para as próximas novidades ou para o surgimento de plataforma que integre diversas soluções.

Claro que o processo é muito bem-vindo. Quanto mais ferramentas tivermos para tirar do advogado trabalhos que nunca deveriam ter sido atribuídos a advogados, melhor. Mas será que a evolução do setor depende realmente apenas da tecnologia? Não estamos nos esquecendo de nada?

Em tempos de respostas rápidas (senão imediatas), mensagens instantâneas, e-mails, smartphones, encurtamento da barreira das distâncias físicas, questiono: não seria interessante a prática jurídica também se modernizar?

Por mais inovadora que possa ser determinada ferramenta, ainda estamos longe do dia em que um computador substituíra totalmente o operador do direito. A elaboração de petições, sentenças, pareceres e etc. ainda parecem depender bastante do material humano por detrás da tela do laptop. Ainda somos nós, seres humanos, que pensamos, levamos em consideração valores intangíveis e tomamos decisões baseadas em nossa racionalidade.

Embora muitos se dediquem a encontrar a solução tecnológica que magicamente resolverá todos os problemas, vejo poucos preocupados em tornar a comunicação jurídica mais eficiente, clara e objetiva.

Ainda somos muito apegados ao conceito de que petição boa é petição longa, repleta de brocardos, preferencialmente carregada de extensa lista de julgados que não se aplicam exatamente ao caso concreto, proferidos há décadas por magistrados já aposentados.

Relutamos em abandonar o bom e velho “juridiquês”, uma linguagem paralela que só encontra significado entre os operadores de direito.

Chega de petições demasiadamente extensas, cansativas e confusas. De processos com páginas e mais páginas que, na prática, serão educadamente puladas por todos os envolvidos do processo. Precisamos dar mais valor para a clareza da mensagem do que para a quantidade de caracteres usados para construí-la. Menos quase sempre é mais.

Nunca neguei que documentos jurídicos devem ser construídos a partir de certa formalidade inerente à área. Acho apenas que não podemos, em prol da tradição e do número de páginas, prejudicar a objetividade e concisão.

Sou sim da opinião de que a “advocacia do futuro” deve, claro, passar pela bem-vinda revolução tecnológica. Só que junto dela precisamos mudar nossos antigos costumes. Dar lugar a algo mais moderno e condizentes com as demandas atuais. De nada adiantará introduzirmos novas tecnologias se mantivermos os velhos hábitos.

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